O que é SIGOR
O sistema estadual de gerenciamento online de resíduos sólidos é um software doado pela indústria da construção paulista à Cetesb em 2014 e que deveria atender aos objetivos do Plano Estadual de Resíduos Sólidos, lei nº 12300/ 2006 e o decreto estadual nº 54 645/2009.
Sua proposta
A ideia central do sigor é, basicamente, formalizar em caráter eletrônico, a relação entre o gerador do resíduo da construção e destinatário, passando pelo transportador (caçambeiro, frete ou basculante) e gerando dados e informações mais confiáveis do que o modelo atual, que é o papel em três ou quatro partes.
Como ferramenta para agilizar a tomada de decisão sobre resíduos no estado, o sigor também tem a função de estruturar ou embasar normas e regras concernentes à gestão dos resíduos da construção e consolidar os objetivos da Política Nacional de Resíduos Sólidos, lei nº 12305/2010 e outras leis sobre o tema.
Como meio de se chegar a informações mais fidedignas, o sigor seria uma forma de alcançar o número total de destinatários de RCD, transportadores (caçambeiro, frete ou basculante) e áreas afins objetivando construir um inventário realista de resíduos sólidos no estado.
É, portanto, algo relativamente estratégico para o governo e, sem dúvida, poderia auxiliar a revisão de planos estaduais e decisões da diretoria da secretaria de meio ambiente em assuntos no âmbito dos resíduos sólidos urbanos e resíduos da construção e demolição.
Esse sistema foi doado pela indústria da construção civil ao estado de São Paulo e deveria servir como um CTR eletrônico, todavia, após 10 anos, ainda carece de apoio técnico, de pessoal e melhorias estruturais para ser efetivamente estratégico.
Acima de suas deficiências, que são muitas e impede o desenvolvimento de novas tecnologias e inovação nos municípios, está uma camada muito precária de discursos vagos e pura publicidade. É muito difícil apresentar informações e dados que comprovem a sua eficiência.
Os dados publicados no site da Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística – SEMIL (antiga SIMA) são preocupantes, pois mostram uma completa falta de orientação por parte dos órgãos públicos e da CETESB, uma vez que, de todas as metas relacionadas a gestão do RCD apresentadas em 2017, nenhuma foi atendida. Isso mostra que possuir um sistema realmente eficaz não é prioridade do governo estadual.
Isso é particularmente perigoso. Muitos estados aparentemente com estruturas mais evoluídas e maior empenho na pauta ambiental veem esse sistema como modelo baseado unicamente nos discursos das pessoas responsáveis pelo sistema em São Paulo.
![SIGOR - A eterna promessa 1 Descarte irregular de entulho](https://abrecon.org.br/wp-content/uploads/2023/11/Carroca10-300x181.png)
Não há um relatório de desempenho sequer para comprovar que o sigor funciona de fato. Das metas estabelecidas pelo plano estadual de resíduos sólidos em 2017 nenhuma foi atingida, nem chegou perto. No caso do sigor, a meta era atender a 100% dos municípios paulistas até 2019, mas, em 2023, não chega a 15, precariamente, visto que, dos municípios que aderiram ao sistema, mais da metade apenas formalizaram sua intenção sem qualquer compromisso com o encerramento de aterros clandestinos de lixo e entulho, regulamentação do transporte de RCD e informatização na fiscalização.
![SIGOR - A eterna promessa 2 Aterros clandestinos de entulho](https://abrecon.org.br/wp-content/uploads/2023/11/Purrsonals-300x180.jpg)
O sigor deixa de ser atraente a partir do momento em que não evolui para atender às demandas da sociedade, especialmente na fiscalização do destino do entulho. Ainda, é burocrático na integração com outras ferramentas e passa longe de ser um sistema local, com administração municipal e adaptado à legislação da cidade.
No quesito municipalidade, o sigor inibe a inovação e o desenvolvimento de novas tecnologias para a geração, transporte e destinação do entulho. Pouquíssimas cidades no estado usam drones para fiscalizar a gestão do RCD e uma ou duas cidades usam tecnologias de monitoramento e rastreamento da caçamba estacionária. Isso acontece porque o sigor oferece aos municípios gratuidade na gestão eletrônica dos resíduos.
O sigor não é bom e é de graça. Ao aderir ao sistema, o município não tem estímulos para regulamentar o setor de resíduos da construção, muitos às vezes imaginam que o sistema fará esse trabalho, com um toque de mágica, da noite para o dia, num estalos de dedos.
Em 2023 temos as seguintes tecnologias disponíveis para o setor de RCD:
- Tags (não é GPS) colados no caminhão e nas caçambas para rastrear o movimento de resíduos;
- Sistemas municipais com integração com câmeras de vigilância e de trânsito com leitura automática de placa de no número da caçamba e dos veículos;
- Aplicativos instalados no celular do motorista que servem como CTR e substituem o papel impresso do CTR;
- Veículos com câmeras em 360 graus que percorrem a cidade para fiscalizar as caçambas estacionarias, caminhões, pontos viciados e até aterros clandestinos;
- Satélites com monitoramento de áreas clandestinas e movimentação de resíduos nesses espaços;
- Sistemas municipais integrados com informações de todas as caçambas estacionadas sobre a via e nas obras com identificação de gerador, transportador e destinatário do RCD;
- Bloqueio virtual ou eletrônico de áreas suscetíveis a crimes ambientais ou a pontos viciados com controle por meio de satélite, câmeras, entre outros;
- Além de cruzamento de dados entre a Secretaria de Fazenda, Meio Ambiente e incorporação de Inteligência Artificial (IA) para aferir o volume de RCD transportado por cada empresa locadora.
Pois bem, o sigor impôs uma cultura que reduziu a inovação e as novas tecnologias no controle do RCD nos municípios. Isso em si já mostra que esse sistema não traz nada interessante para o setor, ao contrário, é um atraso sem precedentes.
Assim, o sigor nunca foi um sistema inovador e disruptivo, pois já nasceu velho com tecnologia retrógada e com base estruturante partindo da visão do gerador do resíduo, as construtoras.
![SIGOR - A eterna promessa 3 Procedures | Abrecon](https://abrecon.org.br/wp-content/uploads/2023/11/Procedures-300x225.jpg)
É imperioso que a SEMIL (Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística) dê atenção à questão ambiental, especialmente nas metas do famigerado Plano Estadual de Resíduos Sólidos.
A justificativa oficial da Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística é que “o governo não tem orçamento para o desenvolvimento de sistemas nem para o plano estadual de resíduos sólidos”. Ou seja, não tem orçamento e nem é prioridade.
A política ambiental adotada pelo governo de São Paulo mostra que resíduos e preservação ambiental não fazem parte da sua agenda, bem como, por indiferença à causa, mantém um sistema eletrônico que há 10 anos não cumpre seu papel e serve apenas para endossar uma publicidade vazia por parte do lobby da indústria da construção e de entidades setoriais pouco comprometidas com a causa ambiental.
O sigor é apenas a ponta do iceberg, pois, sem uma estratégia para lidar com a miríade de problemas na gestão dos resíduos da construção e planos estaduais de resíduos sólidos que ficam eternamente no papel, essas soluções serão promessas, nada mais do que promessas.