Por que os britadores móveis para RCD não são uma boa ideia para os consórcios públicos?

São Paulo possui a maior frota de equipamentos voltados à reciclagem de resíduos da construção doados aos Consórcios de Municípios, porém, em grande parte estacionadas sem condições de uso.

O Estado de São Paulo, por meio da secretaria de meio ambiente, é seguramente o maior comprador de britadores móveis para reciclagem de resíduos da construção do Brasil.

Suzano2020 | Abrecon
Lixão com recebimento de lixo e entulho na Região Metropolitana de São Paulo

E não é de hoje. A doação de britadores fixos, móveis e até implementos é uma prática há pelo menos vinte anos.

Por que os britadores móveis não são eficientes para os problemas do setor de RCD?

  • Não combatem os lixões que recebem lixo e entulho;
  • Não responsabilizam os geradores;
  • Não reduzem os custos do município com a gestão do RCD;
  • São incompatíveis com o tipo de resíduo gerado nas cidades;
  • Não possuem mesa de triagem;
  • A maioria dos equipamentos não possuem peneira vibratória, o que compromete diretamente a qualidade do material final;
  • Não controlam a entrada de resíduo e nem reportam as informações ao órgão estadual ou federal;
  • Não produzem agregado reciclado de qualidade;
  • Criam sistemas improvisados com grande risco à vida dos operários, como por exemplo triagem sobre a tremonha (boca de alimentação);
  • Histórico de fracassos de todos os equipamentos doados;
  • Os municípios não criam regras para a geração e o transporte de RCD;

Os britadores de entulho doados para consórcios de municípios são financiados em parte ou a fundo perdido pelo Fundo Estadual de Prevenção e Controle da Poluição – FECOP, que além disso, tem recursos para usinas de reciclagem de RCD fixas e implementos, como mandíbula acoplada, peneiras móveis, retroescavadeiras, carregadeiras, entre outros.

Não há um motivo técnico ou científico que embase a decisão do Estado de São Paulo em doar equipamentos para consórcios de município, nem relatório analisando o real desempenho desses britadores ao longo de vinte anos.

TurnStyle23 | Abrecon
Britador móvel operando com triagem na boca de alimentação e sem segurança operacional

As doações dos britadores são feitas em geral com a participação de políticos e quase nenhuma avaliação técnica sobre a condição para o equipamento operar.

De acordo com o FECOP [Fundo Estadual de Prevenção e Controle da Poluição], os registros de doação de equipamentos às cidades e consórcios públicos desde 2008.

O saldo é de inúmeros equipamentos sucateados e com pouquíssimas horas de uso. Alguns estão encostados em razão da falta de mão de obra e manutenção.

É uma fantasia achar que os britadores para reciclar entulho vão resolver a miríade de problemas na gestão dos resíduos da construção, tampouco acabar com os lixões que afetam milhões de pessoas.

Apesar de o FECOP [Fundo Estadual de Prevenção e Controle da Poluição] não dispor de relatório que analise a função e a eficiência desses equipamentos, e é pouco provável que vá fazê-lo, a certeza é que são inócuos para a realidade do estado e dos municípios.

Ranieri61 | Abrecon
A maioria das cidades não tem ecopontos para pequenos geradores, e quando têm, coletam os resíduos e jogam nos lixões

100% dos consórcios públicos que receberam os equipamentos não tem demanda para a utilização dos britadores móveis e sequer resolveram seus problemas na geração, transporte e destinação dos resíduos, ou seja, mesmo com um equipamento de ponta, as cidades e os consórcios não fizeram nada para cobrar responsabilidade do gerador do resíduo e regulamentar o transporte de RCD por meio das caçambas estacionárias. E pior, nem mesmo fecharam seus lixões. 

A política decrépita, voltada aos interesses de poucos e lastrada em conceitos empíricos é, fatalmente, o maior obstáculo para o desenvolvimento do setor de resíduos da construção em São Paulo e no Brasil.

Baseado em qual dado ou informação o governo estadual resolve doar britadores móveis para cidades e consórcios públicos?

Não existe uma agenda ambiental dos consórcios de municípios e a visão é muito distante da realidade dos resíduos sólidos. Ao contrário do que apresentam em seminários, lives e reuniões, não almejam economizar, querem gastar

De todos os consórcios de municípios que foram contemplados com um britador móvel de RCD, nenhum tem políticas para estimular o uso do agregado reciclado. Mais da metade dos consórcios de municípios contam com usinas de reciclagem de RCD privadas em seus territórios.

Traduzindo, se as cidades destinarem seus resíduos da construção (entulho) para as usinas de reciclagem de RCD existentes elas economizariam dois terço do custo atual. Com o equipamento as cidades e os consórcios gastam no mínimo três vezes mais.

Um britador para resíduos da construção e demolição está muito acima da capacidade de um consórcio público de municípios, pois não basta apenas ter um equipamento, é necessário operadores, recursos financeiros para sua manutenção e operação e know how sobre o negócio.

Para além disso, a maioria dos consórcios não possuem sistemas de emissão de CTR, não cobram o procedimento dos caçambeiros e ao menos sabem quanto de entulho se gera e transporta no município.

Os britadores móveis para a reciclagem de entulho são erros recorrentes dos consórcios de municípios que recebem os equipamentos e aceitam, mesmo não tendo recursos financeiros e conhecimento para operá-los.

Por outro lado, os equipamentos doados pelo FECOP não vão resolver a ausência de regras para o transporte de resíduos, os lixões espalhados pelo estado e leis que responsabilize o gerador pela destinação dos resíduos da construção.

O último lote de britadores móveis para RCD foram doados em meados de 2022. Em 2025 não há relatos da operação do equipamento com regularidade nos municípios, como era divulgado pelos mais entusiastas.

Em breve serão estacionados e sucateados…

Sobre o autor
Compartilhe este post:
Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp