Reciclagem de resíduos da construção precisa de projetos com mais inteligência e planejamento

A concepção de um destinatário de RCD, a fiscalização dos aterros clandestinos e irregulares de entulho e o dia a dia de um empreendimento que trata resíduo da construção é o mesmo há pelo menos trinta anos. O segmento precisa adotar tecnologia e procedimentos para saltar em qualidade e produtividade.

A primeira usina de reciclagem de entulho que se tem notícia no Brasil foi instalada no bairro de Santo Amaro, zona sul de São Paulo, em meados da década de 90. De lá pra cá, pouco mudou na rotina de um destinatário de RCD e a ideia sobre o negócio permanece a mesma – “receber e vender entulho”

Diferente de um aterro sanitário, que obrigatoriamente demanda estudos e passa por inúmeros crivos para ratificar a sua viabilidade econômica, o setor de resíduos da construção é baseado em pouquíssima informação e muito feeling, em geral com uma filosofia empírica e nada mais.

Há anos o empresário do setor empreende olhando para o lado e cria expectativas onde não há condições mínimas. A reciclagem de entulho, infelizmente, não cabe em qualquer lugar, mesmo onde haja muito entulho.

A oportunidade fácil e simples, o “olho gordo” acaba por cegar o empreendedor ávido por lucro e resultados financeiros. A ideia aparentemente simples desencadeia uma série de problemas de ordem organizacional

Há inegavelmente uma hipocrisia por parte do empresário desse setor, embora o lucro seja o maior atrativo, falta uma base ideológica que sustente o negócio, ou seja, focar apenas no resultado financeiro e esquecer o restante é no mínimo um indício de uma tragédia.

Os problemas mais agudos de uma usina de reciclagem de RCD são decorrentes da ausência total de projeto associado a uma visão torta e precipitada sobre o entulho e o setor. Alto custo de recepção, triagem e reciclagem, concorrência com os aterros clandestinos e política pública são apenas alguns itens não identificados pelo empreendedor que, cego, não consegue entender a dinâmica da gestão do RCD em seu município.

Não há como apontar um município que seja exemplo na fiscalização da destinação dos resíduos da construção, exceto alguns casos muito isolados que não representam o perfil nacional e estão muito à frente.

 

Para aquelas usinas públicas, que são a minoria no país, a questão ainda é mais absurda. Em geral parte-se de princípios muito distantes da realidade com soluções milionárias que não funcionam.

Governo de São Paulo não tem metas para encerrar aterros clandestinos
Aterros clandestinos de lixo e entulho

Atualmente há políticas públicas de estados para a compra de britadores para consórcios de municípios que não geram nem cinquenta metros cúbicos de entulho por unidade.

Uma amostra do quão distante são esses projetos da realidade local e quanto isso é desperdício do dinheiro público: as usinas públicas (conjunto de britador e peneira vibratória) que foram adquiridas são equipadas com britadores de martelo.

A necessidade de estudar o mercado, entender o negócio e adaptar a proposta à realidade local é posta de lado em nome de uma “praticidade” ou “dinamismo” de um empresário despreparado e alheio ao trabalho estratégico.

A reciclagem de entulho ainda é um negócio para aventureiros. É um empreendedor que aprende batendo a cabeça, mesmo que haja inúmeros exemplos de insucesso no mercado e uma rede de networking única.

O empreendedor revela-se um ciclope, com apenas um olho na testa, insaciável por retorno financeiro, lastreado em especulação e alheio ao ambiente de negócio que definirá o seu futuro.

Não é incomum ver usinas de reciclagem de RCD tendo a maior fatia da receita com a recepção de resíduos com preços abaixo do custo.

A dificuldade em vender agregado reciclado é apenas um sintoma da falta e ausência de planejamento e organização.

Do início conturbado até a falência vai em média três anos.

O Brasil é um dos maiores mercados de destinação de resíduos da construção do mundo e não pode ficar refém do antagonismo da reciclagem, do mito do lucro rápido e fácil e da ingenuidade do empreendedor.

É imperioso que o setor de RCD salte em nível de qualidade dos projetos e saia do ciclo eterno do empreendedorismo sem resultado.

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Projetos com mais inteligência e planejamento