Reciclagem de entulho: fator vital para a construção sustentável

Não é preciso ser profissional do setor para saber a quantidade expressiva de entulho que uma construção ou demolição produz, não é mesmo? Nesse sentido, os resíduos gerados de uma obra civil vêm acompanhados de um enorme desperdício de materiais, o que resulta no aumento de custos, descarte clandestino e, consequentemente, na contaminação do meio ambiente. Efeitos quase sempre incalculáveis e devastadores.

Na contramão desse cenário, a construção sustentável tem ganhado força no Brasil e, junto com ela, recursos e procedimentos que minimizam ou mesmo põem fim a ações ecologicamente negativas. É aí que entra a reciclagem de entulho, prática indispensável a construções que prezem por sustentabilidade e que merece destaque e adesão do setor por seus inúmeros benefícios.

Segundo Levi Torres, ambientalista e coordenador da Associação Brasileira para Reciclagem de Resíduos da Construção Civil e Demolição – ABRECON, com a reciclagem de entulho a obra ganha não apenas adotando o material reciclado, mas também a gestão total dos resíduos no canteiro de obras. “Desta forma, cria-se mecanismos para reduzir o desperdício e o custo de descarte do entulho, diferença fundamental entre uma obra que faz a gestão correta dos detritos e emprega os reciclados e uma construção que não faz uso deles”, observa.

O que é e como funciona a reciclagem de entulho?

Ao contrário do que muitos imaginam ser, a reciclagem de entulho é o processo que utiliza materiais oriundos de construções – conhecidos como entulho classe A e inertes, geralmente restos de alvenaria, concreto e cerâmica – como matéria-prima central. Essa sim, por sua vez, é quem dá vida ao chamado agregado reciclado, resultado do processo de reciclagem dos resíduos da construção civil e demolição (RCD) e produzido de acordo com as normas nº 15112, 15113 e 15114 de 2004 da ABNT.

Os benefícios da reciclagem de entulho

Construtoras e profissionais que tenham como meta a reciclagem de RCD de suas obras, assim como o uso de agregados em projetos, reduzem consideravelmente as chances de descartes irregulares, diminuem a compressão sobre os aterros e possibilitam a criação de novos materiais de construção. Ou seja, além de ganhos econômicos e ambientais, cidades e cidadãos também são favorecidas, pois além de a prática reduzir a emissão de gases poluentes, poupa recursos naturais e gera economia para o poder público e a sociedade.

Para Levi Torres, além de ser mais barato, o agregado reciclado é mais sustentável porque gera renda, trabalho e emprego. “Ao utilizá-lo, há uma significativa redução na exploração de pedreiras e portos de areia, atividades notoriamente impactantes para o meio ambiente. O descarte irregular de RCD cria focos de doenças, gera ônus para o poder local, desvaloriza áreas e espaços públicos e ainda causa a impermeabilização do solo”, alerta.

 

Práticas adequadas e responsabilidades

O processo de reciclagem de entulho também está ligado a questões que vão além da sustentabilidade. Agentes do setor de construção civil têm deveres legais quando o assunto é o descarte de resíduos de uma obra e que, quando não cumpridos, não podem se justificar pela falta de fiscalização do poder público, outro sério agravante. O mesmo ocorre com o conceito equivocado sobre os transportadores, que erroneamente e quase sempre assumem o papel de gerenciadores de resíduos.

“Hoje a cadeia da construção civil põe no transportador da caçamba para entulho a obrigação em conduzir e destinar o material. No entanto, de acordo com a Política Nacional de Resíduos Sólidos e a resolução CONAMA nº 307/2002, a responsabilidade pelos resíduos é de seu gerador, ou seja, da construtora”, diz Torres. E completa: “O desperdício na construção chega a marca de 30%, algo inadmissível em tempos de escassez de água e outros recursos naturais”.

Fonte: Tem Sustentável | www.temsustentavel.com.br

Jornalista Michele Lopes

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