Especialistas alertam sobre riscos do uso de entulho para conter erosão

A alternativa encontrada pela prefeitura de Ourinhos (SP) para resolver um antigo problema está gerando outro até mais grave e há suspeita de crime contra o meio ambiente, segundo especialistas. Para conter uma enorme erosão, que fica em um conjunto de chácaras da cidade, foi autorizado que pessoas dispensassem entulhos no local, o que fez com o local se tornasse um verdadeiro lixão.
Os caminhões chegam a todo instante no terreno próximo a Avenida Vitalina Marcusso, local onde existem duas nascentes do córrego da veada. De acordo com o secretário de Desenvolvimento Urbano, os veículos que levam o lixo tem autorização da prefeitura para tapar a erosão. Ao todo, são 80 por dia. “Por falta de jazida de terra, material ideal para se fazer o aterro e a contenção da erosão, nós optamos por usar o entulho da construção civil para fazer a reposição” , explica Valdir Bergamini.
O secretário afirma ainda que o problema de erosão se arrasta há mais de 20 anos. A prefeitura cumpre um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), assinado em 2007, onde ficou determinado que é de responsabilidade do município cuidar da erosão formada no terreno particular. No entanto, ate agora, o trabalho não foi concluído.
Para piorar a situação da prefeitura de Ourinhos, o município que já foi notificado em 2004 pela Cetesb, ainda não conseguiu as licenças para trabalhar no local. “Não existe nenhum documento para disposição de resíduos sólidos inertes. Em 2004, nós tivemos uma reclamação nesse local e notificamos”, afirma Luiz Eduardo Medel.
Utilização gravíssima
Segundo uma professora da Unesp, doutora em agronomia e especialista em ciência do solo, essa definitivamente não é a melhor maneira de se conter uma erosão. “A utilização desses resíduos é gravíssima porque no local temos uma grande diversidade desde matéria orgânica até metal pesado. Esse material, por uma lógica da gravidade, vai fazer que ele chegue no rio Paranapanema e isso certamente vai virar um processo em cadeia de contaminação de todo o sistema: solo, água, peixes e também os humanos que consumirem a água”, afirma a pesquisadora Maria Cristina Perusi.
Já para outro biólogo que também estuda a área diz que a água desse córrego ajuda a abastecer o Paranapanema. Jackson José Ferreira fez análises nas duas nascentes que existem no local e o resultado é preocupante. “Nós coletamos a água que passa debaixo dos entulhos e isso deu um número infinito de bactérias. Já na amostra que a gente coletou diretamente da nascente, a beira do ribeirão e que não tem contato com o lixo, deu o número 0 de bactérias e isso demonstra que o lixo está contaminando a água da nascente”, conclui.Fonte: G1 | 24 de novembro de 2014 | http://goo.gl/NT9bA8

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