Empresas de demolição comemoram mercado imobiliário aquecido

De 1997 a janeiro deste ano, dois imóveis foram ao chão por dia na cidade de São Paulo -é a média dos 11.451 alvarás de execução de demolição que a prefeitura emitiu no período.

Em uma cidade que sofre com a escassez de terrenos nas áreas mais visadas pelo mercado imobiliário, demolir casas é passo quase obrigatório para a construção de grande parte dos novos espigões.
Para empresas ouvidas pela são paulo, algumas com mais de 50 anos, os últimos dez anos foram os de maior crescimento para os negócios. Todas elas, no entanto, desconversam quando o assunto são números.

Isidro Diez, 66, da Demolidora Diez, fundada em 1958, conta que entre 2005 e 2010 sua empresa viveu o período mais lucrativo, quando registrou um crescimento de 100%. \”O mercado estava aquecido demais, faltava mão de obra e maquinário\”, diz. \”No segundo semestre de 2011, no entanto, houve uma queda de 30%.\”
Diretor comercial da Desmontec -empresa que participou da controversa implosão da favela do Moinho, na região central, no início do ano-, Hewerton Bartoli, 25, afirma ter crescido a uma média de 10% ao ano entre 2001 e 2010, levando ao chão casas, fábricas e galpões. \”Estamos acompanhando o crescimento do mercado da construção civil.\”

Levantamento feito pela reportagem em 7 das 31 subprefeituras mostra que São Paulo registrou altos e baixos na última década entre as demolições autorizadas. Considerados apenas os dois últimos anos, houve alta na maioria dos bairros.
A Subprefeitura da Sé, que inclui bairros como Bela Vista, Consolação, Liberdade, República e Santa Cecília, teve 102 autorizações para demolição em 2011, ante 44 em 2010 -alta de 132%. Em 2003, porém, foram 345- o maior registro da década na região.

Na Subprefeitura da Lapa -que engloba bairros visados pelo mercado imobiliário, como Vila Leopoldina-, o número foi de 56 para 90, de 2010 para 2011. Nos três primeiros meses deste ano, já foram autorizadas outras 34.
Negócio de família
Isidro Diez começou aos 16 anos na empresa então tocada pelo pai, que chegou da Espanha com a família em 1955. \”Na década de 1960, demorávamos dois meses para demolir um sobrado. Era tudo manual\”, diz. \”Hoje, em menos de dez dias se coloca uma casa no chão. Faço uma média de 12 a 15 demolições por mês.\”

Sua empresa, a Diez, foi uma das que participaram da transformação da avenida Paulista nos anos 1970. \”Derrubamos um casarão onde hoje é o Banco de La Nácion Argentina\”, conta ele, enumerando uma lista de cerca de 20 imóveis que foram ao chão.

Hewerton Bartoli também entrou no negócio pelas mãos do pai, Wesley, diretor da Desmontec e há 40 anos no ramo. Ainda possui contornos familiares a história da ABC e da FBI.
Dono da ABC, aberta em 1996, Antônio Rosa, 45, começou no negócio por conta do irmão, Deoclides, 47, no setor há mais de 20 anos e hoje à frente da FBI -esta participou da demolição dos edifícios São Vito e Mercúrio, na região central.
Para Rosa, o setor vive seu melhor momento desde que ele abriu a empresa, há 16 anos. \”Esse mercado só cresceu.
Tem bastante trabalho. A gente não dá conta dos pedidos\”, afirma ele. \”Apesar disso, hoje está mais fácil demolir por causa do maquinário, que faz 80% do trabalho.\”

Além dos casos em que são usados guindastes e tratores, algumas demolidoras trabalham com implosão, como a Desmontec. Segundo Hewerton, os explosivos são usados quando o imóvel é muito grande e pesado e o prazo de execução é menor. Mas são evitados quando há risco de dano a edificações vizinhas.
Em geral, diz o empresário, a destruição por detonadores é complementada pela demolição convencional.

Casa, não; prédio, sim
Para empresas de grande porte, demolir sobrados não é mais negócio. Segundo a Diez, só 30% de suas encomendas envolvem casas. O restante são fábricas e partes de edificações para a ampliação de shoppings, por exemplo. \”As construtoras buscam áreas grandes. Hoje, estamos derrubando antigas fábricas na zona leste.\”
Desde setembro, a empresa está encarregada de levar ao chão o hotel Ca\’d\’Oro, na rua Augusta, região central. Cerca de 20 homens trabalham para concluir o trabalho até junho.

De acordo com Antônio Rosa, da ABC, as demolidoras optam por construções maiores porque ganham por área -são R$ 100 por metro quadrado, diz ele, que faz cerca de 15 demolições por mês. Se o material da demolição ficar com a empresa, que depois o revende, são cobrados R$ 50 pela mesma medida.
O reaproveitamento do material é prática comum entre as demolidoras, que também conseguem reutilizar estruturas de madeira e ferro. \”Eu abri meu leque, investindo na reciclagem do entulho\”, diz Hewerton, que também é vice-presidente da Associação Brasileira para Reciclagem de Resíduos da Construção Civil e Demolição.
Entre os principais trabalhos da empresa, estão o antigo estádio do Palmeiras, na zona oeste, e a praça Roosevelt, na região central.

O entulho é encaminhado para a pavimentação de ruas e avenidas. De acordo com a prefeitura, a chamada pavimentação ecológica já beneficiou 62 vias de regiões periféricas da capital desde 2010.
Transformação dos bairros

Para Nadia Somekh, professora de arquitetura e urbanismo do Mackenzie e conselheira do Conpresp (conselho municipal para a preservação do patrimônio), a maneira como São Paulo se desenvolveu nos últimos anos contribuiu para a transformação dos bairros a partir das demolições de sobrados e antigos galpões e fábricas.
\”Com os congestionamentos, as pessoas procuram morar mais perto de suas atividades. Isso cria uma demanda por prédios em áreas mais bem localizadas\”, afirma. De acordo com a urbanista, essa procura gera a \”consequente demolição de sobrados em áreas da cidade com baixa densidade de ocupação\”, que é o caso de bairros como a Barra Funda, na zona oeste. (Colaborou Malu Toledo)

Fonte: Jornal Folha de São Paulo | 11 de abril de 2012

Sobre o autor
Compartilhe este post:
Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp