A disponibilização de locais e instalações adequados para a recepção, triagem e processamento dos resíduos da Construção Civil pode não só melhorar economicamente uma cidade, como torná-la mais bonita e agradável. A conta é simples: menos despejos clandestinos resultam em melhor qualidade de vida para os habitantes. Mesmo assim, o Brasil só conseguiu aprovar a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) após duas décadas de discussões. A Lei nº 12.305/10 que regulamenta a PNRS é sem sombra de dúvida um avanço para o país, principalmente, para evitar problemas ambientais, sociais e econômicos decorrentes do manejo inadequado dos resíduos sólidos. Mas, em Goiás, para que a legislação saia realmente do papel e passe a beneficiar a sociedade, dois aspectos fundamentais devem ser avaliados e colocados em prática. Trata-se da usina de reciclagem e da logística reversa.
A usina é um sonho antigo do setor da construção civil em Goiás, que necessita do auxílio do governo municipal para que se torne realidade. Já a logística reversa é um conceito que precisa ser implementado pelos fabricantes de matérias-primas. Ambas as demandas tem sido assuntos prioritários e vem sendo trabalhados sistematicamente pelo Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon-GO), o qual precisará ainda, diga-se de passagem, da conscientização e do apoio dos cidadãos para que os benefícios reais sejam gerados.
De acordo com os dados da Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg), o aterro sanitário já foi totalmente tomado pelo lixo. Os dados do órgão mostram que, em 2013, diariamente são coletados cerca de 1,3 mil toneladas de lixo domiciliar em Goiânia. Se incluirmos nesta conta o volume dos resíduos da classe A (tijolos, concreto, materiais cerâmicos e solos), que lá são jogados por determinação do poder público por falta de um outro local apropriado, esse número quase triplica, chegando ao total de 3,3 mil toneladas. Para garantir o recebimento diário de mais resíduos, o aterro está em fase de ampliação. O objetivo é dobrar o tamanho, para, aí sim, poder receber lixo nos próximos 15 anos; no entanto, caso houvesse outra destinação para os resíduos Classe A, a vida útil do aterro poderia ser ampliada.
Com a criação da usina de reciclagem, os resíduos da classe A passariam a ser reutilizados na construção civil, ou seja, a usina seria uma medida sustentável. O entulho poderia se transformar em revestimentos e argamassas. Poderiam ser utilizados como material de base para compactação de calçadas. Serviriam, ainda, de matéria-prima para a fabricação de blocos, manilhas e tubos de concreto em algumas indústrias.
Já os resíduos da classe B (plásticos, madeiras, metal e papel), que hoje já são reciclados pelas cooperativas, passariam a contar com uma logística mais eficiente. A usina passaria a ser um ponto de coleta central e faria a distribuição para as cooperativas, que hoje precisam percorrer obra por obra para colher os resíduos. Resolvida a questão destes dois tipos de resíduos, temos o desafio dos resíduos da classe D, que são considerados perigosos (sacos de cimento e cal, tintas, solventes, óleos, impermeabilizantes e resíduos contaminados). Para estes materiais, a solução é a implantação da logística reversa, um mecanismo de devolução das embalagens aos fabricantes para que estes promovam o reuso ou outra alternativa de descarte.
Podemos pegar o exemplo da compra de sacos de cimento e cal, para entender como funciona a logística reversa na construção civil. O próprio fornecedor que vendeu o cimento ou a cal passa a ser responsável por buscar os sacos vazios, os quais serão reciclados e utilizados novamente. Basicamente, o fornecedor se responsabiliza pelo resíduo gerado pelo seu produto. O setor da construção civil já está desenvolvendo ações de sensibilização, junto a seus fornecedores, para tornar a logística reversa uma realidade de mercado, mas a sensibilização e apoio da sociedade como um todo é importante para se implementar de fato esta cultura. Portanto, para que a Política Nacional de Resíduos Sólidos tenha resultados concretos em Goiânia, é preciso entender que tanto a usina de reciclagem, prometida pelos governantes há 10 anos, quanto a logística reversa, são indispensáveis. Sem estes dois pilares, não vamos conseguir progredir nos âmbitos da Construção Civil e da sociedade como um todo e muito menos garantir um País mais sustentável e que caminhe, de fato, para a preservação eficaz do meio ambiente.
(Gustavo Veras, diretor de Meio Ambiente do Sinduscon) – 23 de julho de 2014